Você já sentiu aquela vontade irresistível de comer um doce depois das refeições? Esse desejo comum pode ter uma explicação científica: a forma como os neurônios funcionam no cérebro. Um estudo recente, publicado na revista Science em 13 de janeiro, revelou que um grupo específico de células nervosas, os neurônios POMC, desempenham um papel importante no apetite por açúcar, mesmo quando o organismo já está saciado.
A pesquisa, conduzida por cientistas do Instituto Max Planck de Biologia do Envelhecimento, na Alemanha, começou com experimentos em camundongos. Os resultados mostraram que, ao terem acesso ao açúcar, os neurônios POMC eram imediatamente ativados, estimulando a vontade de consumir doces. Curiosamente, quando os camundongos ingeriam açúcar mesmo após estarem satisfeitos, essas células nervosas liberavam endorfina – um opioide natural do corpo. Essa substância atua em outras áreas do cérebro, gerando uma sensação de recompensa e reforçando o comportamento de buscar mais açúcar.
Outro ponto interessante do estudo é que essa reação só foi observada com o consumo de açúcar. Alimentos salgados ou gordurosos não desencadearam a mesma liberação de endorfina. Além disso, quando os pesquisadores bloquearam essa via de comunicação neuronal, os camundongos perderam o interesse pelo açúcar, mesmo quando ele estava disponível.
Mas e nos humanos? Para investigar se o mesmo mecanismo ocorre em pessoas, os cientistas realizaram exames cerebrais em voluntários que receberam uma solução açucarada por meio de um tubo. Os resultados foram semelhantes: a mesma região do cérebro foi ativada, e também foram encontrados muitos receptores de opioides naturais.
Segundo Henning Fenselau, líder do estudo e pesquisador do Instituto Max Planck para Pesquisa de Metabolismo, essa resposta do cérebro tem raízes evolucionárias. "O açúcar é raro na natureza, mas fornece energia rápida. O cérebro está programado para aproveitar ao máximo sempre que ele estiver disponível", explica Fenselau em comunicado à imprensa.
As descobertas podem ter implicações importantes para o tratamento da obesidade. Embora já existam medicamentos que bloqueiam os receptores opiáceos no cérebro, eles têm se mostrado menos eficazes do que os inibidores de apetite. Para Fenselau, a combinação dessas abordagens pode oferecer resultados mais promissores, mas mais pesquisas são necessárias para confirmar essa hipótese.