Oncologista brasileiro faz apresentação em congresso na Argentina


O diagnóstico molecular do câncer de pulmão é um avanço importante na detecção e tratamento da doença e envolve a análise das alterações genéticas presentes nas células cancerosas. O resultado permite identificar o subtipo exato do câncer que o paciente apresenta e ajuda a definir o melhor tratamento para cada caso.

Segundo Carlos Gil Ferreira, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e do Instituto Oncoclínicas, essa informação é valiosa porque alguns subtipos de câncer de pulmão podem ser mais sensíveis a certos tratamentos do que outros, o que significa que o diagnóstico molecular pode ajudar a orientar o tratamento e melhorar os resultados. "O diagnóstico molecular é fundamental para a escolha do tratamento adequado ao paciente. Com a análise molecular do tumor, é possível identificar as mutações genéticas presentes, que podem indicar a utilização de terapias-alvo específicas", afirma.

O médico é um dos destaques do ESMO Summit Latin America 2023, evento que acontecerá em Buenos Aires, Argentina, nos dias 28 e 29 de abril. Como co-chair, que significa ser um dos líderes responsáveis pela organização e planejamento do evento, fará uma apresentação sobre o diagnóstico molecular do câncer de pulmão, Recomendação atual para subtipagem molecular em NSCLC (tecido versus amostras líquidas), na sexta-feira, 28. "Nos últimos anos tem havido um avanço significativo no conhecimento das alterações genéticas presentes nos tumores de pulmão. Isso tem levado a um melhor entendimento da biologia do câncer e permitido o desenvolvimento de terapias mais precisas e efetivas", afirma.

Biópsia líquida ou de tecido

A biópsia líquida é um método não invasivo de diagnóstico de câncer que utiliza amostras de fluidos corporais, como sangue, urina ou saliva, para identificar e analisar material genético e proteínas do tumor. Essas amostras são coletadas e analisadas em laboratório para detectar mutações e outros biomarcadores que possam estar presentes no câncer. Vale ressaltar que a biópsia líquida ainda é complementar a biópsia tecidual, que segue sendo o padrão ouro para o diagnóstico.

Já a biópsia de tecido é um procedimento invasivo que envolve a remoção de uma amostra de tecido do tumor. Essa amostra é examinada em laboratório para determinar o tipo de câncer, o estadiamento e as características moleculares do tumor, que podem ajudar a orientar as opções de tratamento. "Em geral, a biópsia de tecido ainda é considerada o padrão ouro para o diagnóstico e caracterização molecular do câncer de pulmão. A biópsia líquida vem sendo cada vez mais utilizada de forma complementar ou alternativa no caso de não termos acesso a amostra tecidual", afirma.

Uma diferença importante entre biópsia líquida e de tecido é que a biópsia líquida pode ser repetida com mais frequência por ser menos invasiva e causar menos desconforto ao paciente. "Isso pode ser particularmente útil em casos de câncer de pulmão em que a mutação do tumor pode mudar ao longo do tempo devido à terapia e à resistência ao tratamento. Além disso, há estudos sugerindo que no futuro a biópsia líquida possa vir a ser utilizada para monitorar a eficácia do tratamento em tempo real, pois permite a detecção de mutações residuais ou emergentes que possam afetar o prognóstico do paciente", conclui Carlos Gil.

É importante ressaltar que o diagnóstico molecular deve ser, idealmente, realizado em todos os pacientes com câncer de pulmão, independentemente do estágio da doença. "É um exame que pode fazer toda a diferença no tratamento e na qualidade de vida do paciente", enfatiza o oncologista.

Sobre Dr. Carlos Gil Ferreira

Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1992) e doutorado em Oncologia Experimental - Free University of Amsterdam (2001). Foi pesquisador Sênior da Coordenação de Pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) entre 2002 e 2015, onde exerceu as seguintes atividades: Chefe da Divisão de Pesquisa Clínica, Chefe do Programa Científico de Pesquisa Clínica, Idealizador e Pesquisador Principal do Banco Nacional de Tumores e DNA (BNT), Coordenador da Rede Nacional de Desenvolvimento de Fármacos Anticâncer (REDEFAC/SCTIE/MS) e Coordenador da Rede Nacional de Pesquisa Clínica em Câncer (RNPCC/SCTIE/MS). Desde 2018 é Presidente do Instituto Oncoclínicas e Diretor Científico do Grupo Oncoclínicas. No âmbito nacional e internacional foi Membro Titular da Comissão Científica (CCVISA) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). No âmbito internacional é membro do Board, Career Development and Fellowship Committee e do Bylaws Committee da International Association for the Research and Treatment of Lung Cancer (IALSC);Diretor no Brasil da International Network for Cancer Treatment and Research (INCTR); Membro do Board da Americas Health Foundation (AHF). Editor do Livro Oncologia Molecular (ganhador do Prêmio Jabuti em 2005) e Editor Geral da Série Câncer da Editora Atheneu. Já publicou mais de 120 artigos em revistas internacionais. Em 2020, recebeu o Partners in Progress Award da American Society of Clinical Oncology. Presidente eleito da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica para o período 2023-2025.