Por Rafael Barbosa e Fernanda Zauli, G1 RN
Roberlândia Carvalho morreu no dia 19 de março por complicações respiratórias na UPA Nova Esperança, em Parnamirim, Grande Natal.
Mais de um mês após a morte de Maria Roberlândia de Carvalho Gomes, os familiares dela ainda não sabem o que provocou o óbito. A suspeita de morte por Covid-19 está sendo investigada pelos órgãos de saúde do Rio Grande do Norte, mas o resultado do exame ainda não saiu.
Desde então, os parentes não têm qualquer informação sobre esse processo, nem foi dado prazo para o resultado do exame realizado no corpo. “Estamos indignados”, diz Jéssica Carvalho, filha de Roberlândia.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) afirmou que aguarda o resultado do teste para coronavírus que foi colhido e enviado para o Instituto Evandro Chagas, no Pará. A Sesap também disse que pediu prioridade para esse exame.
Roberlândia tinha 47 anos de idade e era faxineira de uma loja de venda de carros seminovos. Ela não havia sido sequer identificada como paciente suspeita do novo coronavírus quando morreu, no dia 19 de março. O exame para identificação da doença não foi realizado antes da morte dela.
A filha dela, Jéssica Carvalho, alega que, aos parentes, foi dito extraoficialmente que seria realizada uma viscerotomia, para saber ela havia morrido de Covid-19. Trata-se de uma técnica de retirada de pedaços dos órgãos para a realização de diagnósticos. “Como não tinham feito o exame para identificar a doença em vida, precisaram fazer esse”, justifica a filha.
Porém, Jéssica conta que entrou em contato com a Sesap e a Secretaria de Saúde de Parnamirim, e que nenhuma das pastas deu detalhes ou confirmou o procedimento. “Eles não nos dão informações. Por que escondem isso da gente? Nós temos o direito de saber”, reclama.
Ela afirma que já tentou saber detalhes sobre o exame da mãe várias vezes e em nenhuma delas obteve informações conclusivas. “Nós queremos saber o que houve”, reforça. Ainda segundo a filha de Roberlândia, os familiares que conviviam com ela não tiveram sintomas da doença, contudo não foram realizados exames nos parentes para saber se eles contraíram Covid-19.
O caso
Maria Roberlândia morreu em uma quinta-feira, dia 19 de março, na UPA Nova Esperança, em Parnamirim, Grande Natal. Na época, o G1 conversou com o filho dela, João Paulo Gomes, que disse que a mãe começou a sentir os sintomas no fim de semana anterior ao óbito. “Todos nós gripamos aqui em casa e ficamos bem depois. Ela não melhorou”, relatou na ocasião.
Maria Roberlândia morava com o marido, o filho, a nora e uma neta de quatro anos de idade no bairro de Nova Parnamirim. De acordo com o filho, ela procurou o médico na rede particular quando os sintomas se agravaram, no dia 17 de março.
Maria Roberlândia tinha 47 anos e morreu com problemas respiratórios em Parnamirim, na Grande Natal — Foto: Arquivo da família
João Paulo Gomes conta que o médico que a atendeu identificou que ela estava com sintomas do novo coronavírus: falta de ar, tosse e febre. Foi aí que orientou que Maria Roberlândia procurasse a rede pública de saúde, para realizar os testes e confirmar ou não a suspeita.
O encaminhamento dado à paciente, ao qual o G1 teve acesso, orientou que fosse realizado um “exame de imagem” (raio-x), para que se investigasse a possibilidade de Covid-19. Ainda segundo João Paulo, a mãe dele seguiu direto para a Unidade de Ponto Atendimento (UPA) Nova Esperança, em Parnamirim.
Raio-x não foi realizado
Jéssica Carvalho afirma que o raio-x não foi realizado na UPA. Além disso, apesar de apresentar os sintomas, ao ser questionada se havia tido contato com algum estrangeiro e responder que não, Maria Roberlândia não se enquadrou como caso suspeito do novo coronavírus, e o exame para a detecção da doença também não foi feito.
Na época, a orientação do Ministério da Saúde determinava que, para fazer o teste, era necessário preencher alguns requisitos. Ter tido contato com pessoas de fora do país, ou infectadas era um deles.
João Paulo Gomes contou ao G1 na época que Roberlândia foi medicada e liberada. A faxineira voltou para casa, mas o quadro de saúde não apresentou evolução. Já na manhã do dia 19, com muita falta de ar, foi levada novamente à UPA, desta vez pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ele disse que a mãe foi entubada e, às 11h do mesmo dia.
De acordo com nota enviada pela Secretaria de Saúde de Parnamirim à imprensa no dia da morte, os médicos que atenderam Maria Roberlândia na UPA afirmam que ela apresentava situação compatível com quadro bacteriano e não com Covid-19. Contudo a secretaria admite a possibilidade de ela ter se contaminado pelo vírus depois.
Jéssica Carvalho lembra que, para o sepultamento, não houve orientação. A família por si só que tomou as providências para que o enterro ocorresse de acordo com as determinações para casos de Covid-19. “Não tínhamos a confirmação, não sabíamos se era suspeita oficialmente. Mas ficou o preconceito das pessoas. Para todos é como se ela tivesse falecido disso”.
O enterro aconteceu com caixão lacrado, com 10 pessoas presentes e durou 10 minutos. “Nós precisamos saber o que aconteceu, se minha mãe faleceu por causa dessa doença. Nós não sabemos de nada”.