Sequenciamento genético da população carcerária paulista vai fornecer dados sobre a resistência da bactéria aos medicamentos
Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP estão fazendo o sequenciamento genômico da tuberculose na população carcerária de presídios das regiões nordeste e noroeste do Estado de São Paulo. O estudo começou no ano passado depois do sequenciamento de vários isolados da bactéria Mycobacterium tuberculosis em pacientes atendidos em Ribeirão Preto e na cidade de Beira, em Moçambique.
Os especialistas estão buscando respostas para o controle da tuberculose resistente. É a doença infecciosa que mais causa mortes no Brasil e no mundo e a resistência aos principais medicamentos é considerada uma grande ameaça pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O professor Valdes Roberto Bollela, do Centro de Pesquisa Molecular em Tuberculose da FMRP, conta que a nova tecnologia (sequenciamento genético) permite traçar o perfil da resistência da bactéria a todos os medicamentos existentes, fazendo diagnóstico, verificando elo de transmissão entre as pessoas e informando sobre as mutações sofridas pelo bacilo. “Ter essas informações e conhecer como a transmissão ocorre nos presídios podem nos ajudar a fazer o diagnóstico mais precocemente e, em especial, o da forma resistente”, diz o pesquisador.
A população carcerária é importante para testar a eficiência diagnóstica da tecnologia genômica pois a ocorrência de casos da doença é muito maior que a da população em geral. Bollela acredita que as informações obtidas pelo estudo possam levar a um diagnóstico mais rápido e a um tratamento mais efetivo, diminuindo a resistência e aumentando as taxas de cura.
Mycobacterium tuberculosis bacillus – Foto: Sanofi Pasteur via Flickr / CC BY-NC-ND 2.0
Parceria internacional
O sequenciamento genômico é considerado uma arma para diagnóstico preciso e completo da resistência da bactéria aos medicamentos, mas exige diferentes técnicas e tecnologias de alto custo e recursos laboratoriais sofisticados.
O estudo da FMRP tem apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da tecnologia para o sequenciamento do Centro de Medicina Genômica do Hospital das Clínicas da FMRP (HCRP).
A análise dos dados gerados será realizada por meio da bioinformática por pesquisadores da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul, parceira da pesquisa. Nas próximas semanas, de 25 de novembro a 6 de dezembro, a pesquisadora Anzaan Dippenaar, do Centro de Tuberculose Genômica da Universidade de Stellenbosch, estará em Ribeirão Preto para treinar os brasileiros que vão trabalhar com o estudo genômico da tuberculose. A iniciativa conta com apoio do programa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da USP.
JORNAL DA USP | Editor Local de Saúde: Willen Benigno Moura