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Mundialmente, o índice de câncer deve atingir 16 milhões de pessoas até 2020, sendo que só nos EUA são registrados anualmente cerca de 70 mil diagnósticos, entre pessoas de 19 e 35 anos. É muito importante enfatizar que, antes de qualquer coisa, cuidar da fertilidade não é prejudicar ou retardar o tratamento oncológico, mas, sim, possibilitar uma segunda chance ao paciente, permitindo que, uma vez curado, a sua fertilidade seja restabelecida e a qualidade de vida, renovada. Preferencialmente, a preservação da fertilidade deve ser realizada antes do início do tratamento específico para o câncer, levando sempre em consideração a idade do paciente, o diagnóstico de câncer existente e a programação do tratamento oncológico.
No Brasil, a estimativa do começo do ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), era de 1 milhão e 200 mil novos casos de vários tipos de câncer entre 2018 e 2019. Neste contexto oncológico e no atual mês de atenção para a saúde do homem, um aspecto levantado é como garantir a fertilidade masculina antes de iniciar, durante e ao finalizar o tratamento. O urologista Jorge Hallak, da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do Grupo de Estudos em Saúde Masculina do Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA), ressalta: “ Me dediquei muito ao estudo de pacientes com câncer, no ponto de vista da criopreservação do espermatozoide, e observamos que, independente do tipo de tumor, há alteração da qualidade dos espermatozoides já com a presença do câncer. E isso vai se agravar com a quimioterapia, com a radioterapia e com outros tratamentos”.
A recomendação das sociedades médicas é para que o paciente que irá iniciar o tratamento congele os espermatozoides antes do processo. Para o urologista, o Brasil ainda não exerce com frequência tal orientação. A acessibilidade para o tratamento no serviço público sofre com várias questões de estrutura para guardar o material e, até mesmo, a perda do contato com o paciente. O custo não é alto, mediante a importância do processo. Segundo Hallak, se o Brasil ampliasse para todo o território, os custos diminuiriam. “Os insumos ainda são importados. E nós temos condições, já temos inovações tecnológicas que poderiam ser adotadas no Brasil.”
Além do mais, deve-se considerar o papel do oncologista para uma figura que não apenas disponibiliza o diagnóstico. Muitos pacientes têm a preocupação com a vida sexual e fertilidade após o tratamento e, neste cenário, os médicos devem ter uma atenção maior com eles. “Não se esqueçam de alertar os oncologistas. ‘Olha, como é que fica a parte reprodutiva? O que a gente pode fazer para que no futuro ele possa ser pai biológico? O próprio paciente tem que levantar essas questões, porque o oncologista pode estar tão preocupado com o tratamento e a própria vida do indivíduo”, complementa o urologista da Faculdade de Medicina da USP. A preservação da saúde do homem é uma responsabilidade do próprio paciente, dos familiares, do governo e, especialmente, dos oncologistas.
JORNAL DA USP