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Alguns estudos demostraram que quando as condições para o desenvolvimento durante a primeira infância são boas, as probabilidades da criança alcançar o melhor de seu potencial, tornando-se um adulto mais equilibrado, produtivo e realizado, são maiores.
A Psicologia nos ensina que ademais da primeira infância está a infância intermediária que compreende os anos posteriores entre os 6 aos 10 anos (há algumas divergências de idade de acordo com cada autor). Seja na primeira infância, até o final da infância intermediária, o fato é que nossas crianças estão vivenciando um momento de aprendizagem, transformações e desenvolvimentos tão importantes que não podem ser negligenciados nem sobre o ponto de vista educacional, da aprendizagem, tampouco da saúde.
A Obesidade e a infância
A obesidade é, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal que pode atingir graus capazes de afetar a saúde. A Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica – ABESO organizou um mapa com dados coletados pela OMS onde coloca a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. Uma notícia preocupante é que há uma projeção de que em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso; e mais de 700 milhões, obesos. E o mais grave de tudo é que o número de crianças com sobrepeso e obesidade no mundo poderia chegar a 75 milhões, caso nada seja feito. Ainda de acordo com a ABESO, no Brasil, a obesidade vem crescendo cada vez mais, onde alguns levantamentos apontam que mais de 50% da população está acima do peso, ou seja, na faixa de sobrepeso e obesidade e, entre crianças, estaria em torno de 15%.
A influência do ambiente na Obesidade
Um estudo realizado nos EUA, publicado pelo JAMA, e destaque na ABESO, descobriu que pessoas que vivem em localidades com taxas mais altas de obesidade têm o índice de Massa Corpórea - IMC médio mais alto e mais probabilidade de desenvolverem sobrepeso e obesidade. A relação foi verificada tanto em adultos quanto em crianças. Com esse estudo pode-se verificar se a exposição a comunidades com maiores taxas de obesidade poderia aumentar o índice de IMC dos indivíduos. Esse levantamento utilizou informações coletadas pelo “Estudo sobre Ambientes, Exercícios e Nutrição de Adolescentes em áreas Militares”, onde examinou famílias de 38 instalações militares, em todo os Estados Unidos, para determinar se esses indivíduos apresentavam maior IMC e mais probabilidades de sobrepeso e obesidade em localidades com maiores taxas de obesidade. Veja os resultados do estudo na íntegra aqui. Em resumo, a exposição a localidades com taxas de obesidade mais altas foi associada a um maior IMC e a uma maior probabilidade de sobrepeso e/ou obesidade em pais e filhos. "Nossos resultados sugerem que as famílias designadas para instalações em municípios com maiores taxas de obesidade apresentaram maior probabilidade de sobrepeso e / ou obesidade do que aquelas atribuídas a instalações em municípios com menores taxas de obesidade", escreveram.
Outro estudo, dessa vez realizado no Reino Unido e com destaque também na ABESO, sugere que o tipo de bairro em que você vive pode prever a probabilidade de ter obesidade. O objetivo era investigar as características de um ambiente "obesogênico", ou seja, um ambiente que encoraja sobrepeso/obesidade. Para esse estudo foi dividido áreas residenciais em cinco tipos, baseados no número de estabelecimentos alimentares e oportunidades de atividade física. A análise mostrou que apenas dois tipos de vizinhança foram associados (negativamente e positivamente) à obesidade. Os bairros saturados caracterizados por uma alta disponibilidade de estabelecimentos de fast food, lojas de conveniência e supermercados, bem como uma alta disponibilidade de academias e parques, foram associados com 14% menor risco de obesidade. Enquanto os bairros de disponibilidade moderada - aqueles caracterizados por um número moderado de estabelecimentos e locais de exercício - estavam associados a um risco maior de obesidade de 18%. Ou seja, bairros que garantem um equilíbrio entre a promoção da obesidade e a restrição que embora possuem uma quantidade grande de fast-foods, mas com uma alta densidade de lugares para exercitar-se demonstraram um percentual menor de obesos que em comparação a bairros onde ofereciam poucos lugares para exercícios. “O menor risco de obesidade nesses bairros pode ser explicado pela densidade populacional. Os bairros saturados eram predominantemente urbanos e densamente povoados”, destaca em um artigo um dos autores do estudo, Matthew Hobbs, da Beckett University onde ainda lembra que em um estudo anterior, realizado com 419 mil adultos do Reino Unido em 22 cidades, demonstrou que as áreas urbanas mais povoadas estão associadas a um menor risco de obesidade em comparação às áreas com população moderada que estão associadas a um maior risco de obesidade. Isso poderia se dar ao fato de que as pessoas que vivem em subúrbios mais moderadamente povoados podem ser mais propensas a usar carros ou outros veículos automotores para suas atividades cotidianas; ao contrário das pessoas que vivem na região central, onde tudo é muito mais acessível a pé ou de transporte público. E o exercício proveniente ao aumento na caminhada poderia explicar, em parte, as menores taxas de obesidade em áreas densamente povoadas.
A escola, o lanche, a fábrica da obesidade
De acordo com Denise Lellis, pediatra do Departamento de Obesidade Infantil da Abeso, o reinicio das aulas é uma época onde coloca muitas famílias em um verdadeiro desafio que é pensar sobre a opção de lanche saudável para ser levado à escola.
Como foi frisado no início da matéria, é comum as crianças em idade escolar da primeira e infância intermediária terem o costume de se alimentar com refrigerantes e salgados, dessa forma é imprescindível uma mudança de hábitos alimentares para que elas não venham a sofrer com problemas de desenvolvimento. Segundo Denise, a escola é considerado um valioso ambiente educativo que deve exercer este papel em todos os aspectos que envolvem a vida da criança.
Na literatura é bastante discutida a importância desse cuidado, na maneira como a escola aborda questões nutricionais em crianças e adolescentes. Para se ter uma idéia, o Bogalusa Hearth Study é um dos mais longos estudos em curso, cujo principal objetivo está em entender o impacto das mudanças vasculares e metabólicos na saúde ao longo da vida.
Doenças cardiovasculares
Para se ter uma idéia, mais de 1.000 publicações, cinco livros didáticos e inúmeras monografias foram produzidas e descrevem observações em mais de 12.000 crianças e adultos acompanhadas desde o nascimento e inúmeras conclusões se falam sobre a prevenção primordial que é a prevenção da doença cardiovascular antes de seus fatores de risco começarem a se estabelecer. O estudo destaca a importância da presença da criança na escola como sendo uma oportunidade de realizar programas de educação precoce e promoção da saúde, ou seja, nesse pensamento a escola deveria dar respaldo ao tomar decisões sobre o que pode ser levado e consumido dentro do ambiente escolar, pois não há sentido de as crianças aprenderem maus hábitos alimentares na escola e dessa forma deve ser realizada em conjunto com os pais.
Escola: A solução está na conscientização
Ainda de acordo com a Pediatra Denise Lellis, os alimentos ricos em sódio, açúcar, gorduras saturadas devem ser abolidos do ambiente escolar não apenas para reduzir o consumo das crianças que já os conhecem mas para não introduzir esses alimentos na vida das crianças que ainda não os consomes. Ela ainda destaca que os pais decidem o que comprar aos seus filhos dentro de casa, porém, quem decide o que oferecer aos seus alunos é a escola e para tanto deve munir-se de conhecimento suficiente sobre o assunto para ajudar os pais a aderirem ao que ela chama de “lancheira saudável” bem como estabelecer condutas claras e embasadas para estabelecer regras firmes, correntes e duradouras.
Por Willen Moura* |
Jornalista | Psicólogo e Estudante de Medicina
Jornalista | Psicólogo e Estudante de Medicina