O juiz Marlon Reis, autor do célebre livro “Nobre Deputado”, deixará de vir ao Rio Grande do Norte nesta quinta-feira, como estava previsto, proferir palestra sobre reforma política dentro das atividades alusivas ao Dia Internacional Contra a Corrupção, promovidas pela Controladoria Geral da União no Rio Grande do Norte (CGU-RN) e pelo Movimento Articulado de Combate à Corrupção (MARCCO).
Motivo: a ação que o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB), move contra ele, em nome dos 513 deputados federais, que sentiram ofendidos pelas revelações feitas pelo magistrado na obra, no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Segundo o chefe da CGU-RN, Roberto Vieira, Marlon Reis cancelou a vinda ao Estado, e justificou. “Ele terá hoje uma audiência na Justiça por estar sendo processado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves, por conta do livro”, disse Vieira, em entrevista hoje ao Jornal da Cidade (94 FM).
Desde o seu lançamento, “Nobre Deputado” vem causando polêmica. O trabalho começou como uma monografia de conclusão de curso, e terminou virando um dos livros mais reveladores dos meandros da corrupção brasileira. Marlon entrevistou dezenas de pessoas, sob a condição de não revelar seus nomes, e, com base nos depoimentos, esmiuçou na obra praticamente todas as formas de desvio de recursos públicos cometidas pelos deputados federais em Brasília.
No livro, de leitura imprescindível, desde o segundo grau, narram-se minuciosamente todas as tramoias e maracutaias que alguns parlamentares praticam para conquistar ou manter o mandato eletivo. Detalha os métodos mafiosos e criminosos empregados por candidatos ou políticos moralmente não ilibados, como cobrança de propina na liberação de emendas ao Orçamento, uso de ONGs fraudulentas para seu enriquecimento, caixa dois, caixa três, dentre outros, para chegarem ao poder.
Quando esteve no RN, no dia 27 de setembro, participando de um ato contra a corrupção, o juiz Marlon Reis, que é um dos idealizadores da lei da Ficha Limpa, concedeu uma entrevista ao Jornal de Hoje. Na época, ele disse que a intenção do livro não era generalizar, como apontou Henrique na representação oficial no CNJ.
“A intenção não foi generalizar, mas mostrar como agem os parlamentares que adotam tais práticas. Minhas críticas são dirigidas à parcela dos deputados que se elege por meio do desvio de recursos públicos e do abuso do poder econômico, não à Câmara dos Deputados como instituição central para a democracia”, disse ele.
“Estou há mais de 17 anos na magistratura sem qualquer menção negativa nos meus apontamentos funcionais. Como juiz, só me pronuncio nos autos, mas, como cidadão, professor, autor de diversos livros e pesquisador acadêmico, tenho e exerço o direito à liberdade científica. Meu objetivo foi revelar como o poder transforma dinheiro em poder”, destacou.
JORNAL DE HOJE