Presidente da Câmara Federal e ex-candidato ao Governo do RN, Henrique Eduardo Alves, do PMDB, tentou usar seu prestígio nacional para barrar a participação do Partido dos Trabalhadores (PT) na campanha de Robinson Faria, do PSD. E quem confirmou isso foi o próprio peemedebista, em entrevista a edição da revista Veja desta semana. Segundo Henrique, foram várias as tentativas de vetar as inserções do ex-presidente petista Lula no programa eleitoral do PSD. Contudo, a cada pedido de suspensão, mais o adversário se utilizava da imagem de Lula. O resultado: Henrique acabou sendo derrotado e culpando o petista por isso.
“Eu procurei o Michel Temer, que na hora telefonou para o Lula pedindo para que não gravasse mais. Tudo bem que a chapa do Robinson estava com o PT para o Senado, mas no plano nacional eu estava com a Dilma. Depois que pedi para pararem, foi quando usaram as propagandas desbragadamente. O Lula não deve ter feito nenhum gesto para pararem de usar. O Temer também procurou o Rui Falcão (presidente nacional do PT), mas não adiantou. Ficou uma coisa muito constrangedora. O Lula ia lá toda hora e classificava o outro candidato como a mudança. Mas sou eu que o conheço, eu que o ajudei, que fui o seu parceiro”, afirmou Henrique.
É importante lembrar que no período pré-eleitoral, o peemedebista chegou a negociar com o PT uma aliança no RN. Contudo, esse acerto não foi viabilizado, justamente, porque Henrique acreditou que a vaga ao Senado, que os petistas potiguares queriam para lançar Fátima Bezerra, deveria ficar com a ex-governadora Wilma de Faria, do PSB. Resultado: Henrique “fechou” com o nome pessebista, partido adversário do PT no plano nacional mas, mesmo assim, queria que o Partido dos Trabalhadores, nacionalmente, não trabalhassem para Robinson, que havia aceitado se aliar aos petistas potiguares.
E mais: como, no palanque, Henrique abrigava políticos que apoiavam três candidatos a presidência da República (ele com Dilma; Wilma com Eduardo Campos e, depois, Marina Silva; e DEM e PSDB com Aécio Neves), preferiu silenciar e não pedir votos para ninguém. Ou seja: quem assistiu aos discursos do peemedebista durante a campanha, via Wilma pedir voto para Marina, José Agripino (DEM), para Aécio neves, mas nunca Henrique falar de Dilma.
“Eu fui surpreendido. O Lula nunca tinha visto o Robinson na vida. Esqueceram de avisar que o Robinson que ele apoiou neste ano é o mesmo contra quem ele gravou em 2010. Se amanhã passar ao lado, acho que o Lula nem o reconhece mais. Enquanto eu era líder do PMDB, sempre que havia uma votação importante, o Lula me chamava para conversar e para negociar. Agora, ele grava uma entrevista em um formato de bate-papo elogiando o Robinson, dizendo que ele vai mudar o Rio Grande do Norte. Isso foi decisivo para a derrota, foram muitas inserções ao longo de vários dias”, afirmou Henrique, dizendo o porquê acreditava que o PT não iria participar da campanha de Robinson, mesmo após ter sido preterido pelos peemedebistas do RN.
Segundo Henrique, diferente da forma como agiu Lula, a presidente da República, Dilma Rousseff, também do PT, foi mais “sensata” e evitou a divisão de forças, não visitando o Rio Grande do Norte durante a campanha. “A Dilma teve outro comportamento. Eu disse que ela poderia ir lá no Estado que todos estaríamos ao lado dela. Mas também disse que ia entender se ela achasse melhor não ir, e ela realmente não foi. Não tenho nada a reclamar dela. Mas, com o Lula, eu vou fazer o quê? Tem de ter maturidade e experiência para virar essa página. Eu reconheço que a participação dele foi muito importante para o resultado eleitoral. Mas, com ressentimentos, ficamos menores. E eu não quero ficar menor com isso”, revelou o peemedebista em entrevista a Veja.
“Dilma nunca foi parlamentar. Acho que ela precisa conversar mais”
Considerado o “símbolo” do fisiologismo pela revista Istoé, em 2013, Henrique Eduardo Alves mostrou na entrevista concedida a Veja que continua preocupado com a distribuição de cargos do Governo Federal. Segundo ele, porém, isso é em nome da governabilidade, afinal, o País saiu da eleição claramente dividido após o pleito do dia 26 de outubro.
“Nada. Mas agora a situação é outra. Fora da janela do Palácio do Planalto há um país dividido. E tem haver muito cuidado para que amanhã não haja uma crise. É preciso calçar a sandália da humildade. A Dilma, na reta final das eleições, quando precisou da ajuda do Nordeste, recorreu ao Lula. Até então quase não se via o Lula participar das eleições, ele estava mais focado na disputa de São Paulo. A Dilma tem de compartilhar mais, de participar mais. Não pode ser como vinha sendo, o PT escolhendo o que quisesse, principalmente os melhores ministérios, e deixando o resto para os outros. Não pode e não deve ser assim. A Dilma tem dois meses para provar que as coisas não vão ser assim”, afirmou Henrique Eduardo Alves.
Segundo o peemedebista, um fato que tem pesado na relação da petista com o Congresso (principalmente com a Câmara Federal, presidida por ele), é a falta de experiência da presidente. “A Dilma nunca foi parlamentar e nunca passou nesta Casa, como todos os outros presidentes passaram e sabem das tensões que temos aqui, da necessidade de dar respostas. Ela exerceu uma função gerencial e se tornou presidente da República. Eu acho que ela precisa conversar mais. Quando convencer, muito bem. Quando não, que seja convencida. Acho que ela vai partir para isso, para um modelo diferente do primeiro mandato. Até porque antes ela tinha um contexto eleitoral muito favorável, mas agora não, está dividido. E aqui, pelo radicalismo da campanha, é um prato cheio para o Aécio, porque as coisas vão se tornar ainda mais radicais. Mais do que nunca vai exigir a colaboração do PMDB e ela própria vai ter de conversar mais com o setor produtivo, com representantes empresariais, com o setor sindical e com parlamentares”, analisou Henrique.
Por isso, inclusive, o peemedebista negou que tivesse feito qualquer revanchismo ao marcar a votação na Câmara Federal a matéria que sustou o decreto da presidente sobre os conselhos populares. “Essa afirmativa é desinformação ou má-fé. Essa matéria aguardava votação há três meses. Eu decidi pautá-la, fiz um pronunciamento defendendo que o decreto era inconstitucional, tentei diversas vezes que o Aloizio Mercadante o retirasse e apresentasse um projeto de lei com urgência. O que nós queríamos era tirar a vinculação dos conselhos à Presidência da República. Toda votação que se abria, a oposição começava a obstruir enquanto não pautasse o decreto. Na hora que deu para ser votado, a obstrução do PT não teve efeito. Se já era meu desejo que ele fosse votado e derrubado e a pressão estava grande, não teve como ser diferente. A Câmara ia ficar em um impasse sem votar nada? Mas isso não tem nada a ver com situação nenhuma. Eu já falei com a Dilma, dei parabéns pela eleição, e ela sequer tocou neste assunto. A presidente ainda disse que na próxima semana, quando voltar de viagem, gostaria de falar comigo porque ia precisar muito da minha ajuda”, explicou.
“Passei a minha vida morando em hotel. Estou preocupado com a minha qualidade de vida”
Em uma entrevista cheia de revelações e confirmações, Henrique Eduardo Alves também confirmou que, realmente, passou pouco tempo no Rio Grande do Norte nesses últimos 42 anos, ocupando o cargo de deputado federal, em Brasília. Por isso, um dos planos dele, agora sem nenhum cargo eletivo a partir de fevereiro do próximo ano, é ficar mais no Estado e ajudar na gestão das empresas de comunicação da família Alves – InterTV Cabugi, Tribuna do Norte e Rádio Globo.
“Eu passei a minha vida inteira morando em hotel sozinho, passava dois ou três dias com a família e viajava. Imagine o que é pegar um avião toda terça e quinta ao longo de todo esse tempo. Agora eu estou preocupado com a minha qualidade de vida. Eu tenho uma empresa de comunicação e vou ficar no comando do PMDB do meu Estado. Continuo na política. Mas quero ter mais qualidade de vida, fazendo o que eu gosto”, afirmou Henrique.
“Muitos querem que eu fique em Brasília. Há pressão nesse sentido pela experiência que eu tenho aqui. Eu poderia ficar fazendo um meio de campo entre o Michel Temer e o Eduardo Cunha. Mas a indicação que eu tenho agora é ter uma qualidade de vida melhor”, afirmou o ainda presidente da Câmara Federal, negando também que aceitaria um eventual convite para gerir ministérios da nova gestão Dilma Rousseff.
“Descarto. Qualquer ministério. Ministério é pior, porque a gente tem de estar aqui de segunda a sexta. A política sacrifica muito a família. Eu tenho dois filhos que quase não vejo. A gente começa a ver que o tempo está passando e está perdendo algumas oportunidades. Então há coisas que vêm pelo bem. Eu tenho um jornal, uma TV e vou ter participação política, mas vivendo com mais estabilidade”, acrescentou.
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