Imagens: Shutterstock; concepção de João Marcelo Simões
É provável que o insight mais famoso da história seja a situação que envolve o grito “Eureca!” de Arquimedes. A lenda conta que o antigo matemático grego foi desafiado a descobrir se a coroa que o rei Hieron II de Siracusa havia encomendado era feita de ouro maciço. Enquanto preparava seu banho, Arquimedes descobriu como medir o volume de um objeto e, portanto, sua densidade, depois de perceber o deslocamento da água ao entrar na banheira. Não sabemos se o fato aconteceu mesmo, mas ele permanece na história porque ilustra perfeitamente como ocorre um insight.
Certas mudanças ocorrem no cérebro quando temos umacompreensão súbita. Em 2004, o psicólogo Mark Beeman, da Universidade North-western, conduziu um estudo em que mediu a atividade cerebral dos voluntários por meio de exames de ressonância magnética funcional (fMRI) e eletroencefalograma (EEG) enquanto tinham um insight. Como nos estudos de Kounios, os participantes deveriam resolver problemas de associação remota e, em seguida, indicar a estratégia utilizada. Os cientistas observaram aumento significativo na atividade do giro temporal superior anterior do hemisfério direito entre aqueles que usaram a intuição, exatamente no momento em que encontravam a solução, em comparação com o restante. O giro é um cume proeminente no córtex do hemisfério direito e desempenha um papel fundamental no reconhecimento de conexões distantes entre palavras.
O aumento na atividade no lobo direito – e não no esquerdo – também pode indicar algo significativo. Segundo os pesquisadores, o hemisfério direito interpreta dados mais grosseiramente do que o esquerdo. Isso significa que a informação é definida de forma menos acentuada, o que permite ter acesso a outros conceitos mais facilmente, um componente-chave da criatividade.
Os dois lados do cérebro trabalham o tempo todo, mas o hemisfério direito pode tranquilamente definir um gato como mamífero, o que torna fácil o relacionarmos com um elefante, por exemplo. Já o esquerdo descreveria o mesmo bicho como um pequeno mamífero, carnívoro, de pele macia, com focinho curto e garras retráteis, algo bem diferente de um elefante.
Pesquisas recentes sugerem que podemos “pender a balança” para o lado mais criativo do cérebro quando descrevemos objetos ou tentamos resolver problemas de maneira a que não estamos habituados. Por exemplo, imaginar um cabide como um fio longo e trançado em vez de um instrumento metálico para pendurar casacos costuma facilitar a descoberta de outros usos para esse objeto. Tentar essa estratégia por alguns minutos na hora de resolver problemas pode ajudar o cérebro a criar conexões entre conceitos aparentemente distantes, mas interligados.
O estudo de Mark Beeman indica que o insight é acompanhado de intensa atividade alfa no córtex visual, que inibe o potencial de ação de neurônios. Isso significa que, durante um momento de compreensão súbita, o cérebro está menos envolvido no processamento de informações visuais, que podem ser uma distração. Os resultados sugerem que o simples ato de fechar os olhos durante alguns instantes já ajuda bastante a favorecer a originalidade.
Por Willen Moura
Fonte: Mente Cérebro